Sabe quando o mocinho tem que fazer uma escolha, e em dúvida
ele olha a sua direita e a sua esquerda e observa sentado em cada um dos seus
ombros, respectivamente, o anjo e o demônio?
Se alguém quisesse ver com perfeição o olhar do diabinho,
bastava que olhasse para o meu diretor cada vez que ele pressentia algo.
Ele era meu chefe há anos, e mais que colegas de trabalho éramos
amigos, parceiros. Por isso, assim que passei da porta da sua sala ele percebeu
que algo havia acontecido, e enquanto eu lhe entregava os papéis ele me
estudava com aquele olhar que só os diabinhos tem.
Apesar de termos uma pequena diferença de idade, acho que o
Carlos era o único que não me entendia como uma pessoa de quarenta e cinco
anos, mas como uma menina de quinze. O fato de ser casado e pai de duas
meninas, e de não ter tido a mais fácil das existências até então, faziam a
diferença, mas a questão principal era que ele sempre foi capaz de olhar além,
de pressentir com exatidão o futuro. Éramos a maior e melhor empresa em nosso
mercado, com um crescimento absurdo por essa visão que ele tinha.
Assim que, tão logo recebeu os papéis, seu primeiro questionamento
não foi sobre o problema que tínhamos de resolver, mas sobre como tinha sido
com o Davi.
Filho da mãe! É claro, ele conhecia o Davi, aliás, eu era a
única na empresa que ainda não conhecia o Davi, ele era afamado e amado por
todos, já tinha ouvido falar dele, da ausência de arrogância natural que os
profissionais de engenharia costumavam ter, a questão era que como me era de
costume, eu não tinha dado bola aos boatos, nem me esforçado em saber quem ele
era, ou em conhecê-lo. Mas o Carlos diferente de mim funcionava como um radar e
ia fundo em tudo que ouvia falar, e claro quando me mandou àquele escritório
mais cedo ele tinha uma dimensão do que poderia acontecer.
O Carlos não era brasileiro, mas já vivia há muitos anos no
Brasil. Ele e a mulher eram duas pessoas simplesmente adoráveis, sabe aquelas
famílias felizes de comercial de margarina que você acha que não existe? Pois
bem quem conhecia o Carlos e a esposa sabiam que essas famílias existem. E eles
como boa parte dos meus amigos também tinham a missão de vida de me ver casada
e feliz, só que mais que isso, sempre que conversamos eu via neles o desejo
sincero de que eu me apaixonasse, e não pelas realidades paralelas que eu
criava, mas por alguém que fosse como eles eram um para o outro.
Assim que naquela sua forma imprecisa de falar ele me
perguntou:
- E ai o que você achou do Davi?
- Ele domina bem o assunto aí estão os cálculos.
Eu sei minha resposta foi evasiva e fria, porque
sinceramente não queria continuar a conversa no rumo que ela deveria tomar, ele
não perguntou se eu resolvi o problema, mas o que eu achei do rapaz, e eu
sentia que aqueles olhos de diabinho me olhando, sabiam tudo que eu não estava
dizendo, e por isso ele parou seus questionamentos ali, examinando os papéis
que lhe entreguei.
Resolvemos o problema e ele me convidou para viajar com a
família para a casa deles na praia, e eu aceitei, passar o feriado em um lugar
deserto, longe da algazarra do carnaval, brincando com as crianças, era tudo
que eu podia querer para esquecer de coisas que antes nem imaginava conhecer.
Música do Dia: Esporte Fino Confortável – Zélia Duncan
E aí, amizade, a nossa amizade,
como é que se sente?
Pois amizade precisa de espaço
Até pro esculacho
Pro acho e não acho também
Que é pra ficar mais forte, tubaína do norte
Esporte fino, confortável, amém!
Pois amizade que é amizade
Íntima rima com intimidade
Briga, mas querendo o bem
Combina com não ter fim
Aprende, ensina, o valor que o lance tem
Descongela aí, me aquece aqui!
Não importa quem fez
O importante é o que faz
O fogo da amizade acender!
Nenhum comentário:
Postar um comentário